segunda-feira, 13 de abril de 2009

Meus caros amigos e concidadãos escrevo esta breve carta para vos dar conta da minha sensibilidade para com o momento altamente dramático que vivem. Devo dizer antes de mais que estou extremamente sensibilizado com os graves problemas que todos sofrem dia-a-dia.

Tenho 20 anos e compreendo que realmente a sina deste país é algo triste. Duas dezenas de anos desde que fui lançado para fora do ventre de minha mãe ouço dizer que o país está em crise. Estranho este pensamento mórbido que assola as mentes humanas destes portuguesinhos enquadrados em mundos obscuros de pessimismo como lei. Dizem eles que querem salvar-se da crise mas…a crise deixou de ser excepção e passou a ser condição. Este saudosismo absolutamente horripilante de nossos avós que gritam a revolta do “antigamente é que era bom” e de alguns retornados que exploravam em África os povos ditos “irmãos” para agora dizerem: “Em África é que era bom”. E eu digo que, lá no fundo, aqui é que é bom porque apesar de tudo, nunca vivemos tão bem como agora apesar de todas as típicas “manias” deste povinho absolutamente magnífico que transborda a sua falta de sabedoria sob este rectângulo que os norte-americanos (outro povo inteligente por sinal) dizem pertencer a Espanha.

Há por este país solarengo, com belas paisagens e com muito mar a arte do “deixa andar”. Uma arte milenar, começada a edificar nos tempos remotos da nossa civilização. Existe de certa forma uma falta de identidade e uma triste divisão entre norte e sul e entre litoral e interior que nada é salutar para um desenvolvimento efectivo do território. Que salvação queremos então para Portugal? Um país preso por fortes ideais religiosos, ideais esses atrofiantes para o desenvolvimento efectivo de um território dito laico no qual a laicização é relativa. Um rectângulo no qual a Igreja ainda tem peso e move alguns fiéis com palas nos olhos que vêem a verdade apenas e só na boca dos clérigos que seguem o tradicionalismo típico daqueles governos anteriores a 1974 e posteriores a 1926. A Igreja que proclama a salvação dos Homens e afunda os mesmos num atrofiante ciclo vicioso que é o grande responsável pela falta de desenvolvimento do país. Já Antero veiculava esta mesma ideia na sua célebre conferência no Casino Lisbonense sobre “As Causas da Decadência dos Povos Peninsulares”. Volvido mais de um século verificamos que os mesmos problemas apresentados por Antero se mantêm. Até quando? Pergunto-me?

O nosso povo gosta também de uns fadinhos e, a ouvir esses mesmos fadinhos, espera que o seu fado se cumpra sem ser necessário mover um dedo para que o futuro se concretize. Há uma falta de espírito de iniciativa estampada na cara de grande parte dos cidadãos deste nobre país, aquela mentalidade do “deixa andar” tão genuinamente portuguesa é um cliché da moral lusa. Assim sendo teremos nós moral enquanto povo para nos auto-denominarmos vítimas de uma crise? E olhar para essa mesma crise passivamente? Deixando tocar o nosso fadinho e vendo sagrado futebol de Sábado à noite, sem esquecer Fátima para completar a trilogia magnífica que ao longo do Estado Novo caracterizou este nobrezinho povinho. Mas…será só durante o Estado Novo que essa mesma trilogia foi efectiva? O passado desse tempo continua bem presente. A política dos 3 “f” continua a ser o circo deste povo, no entanto o pão começa a faltar mas parece que apesar disso o povo está satisfeitamente insatisfeito. Há uma relutância em fazer tão grande e uma passividade tão menos grande por parte deste povo que transformamos o nosso descontentamento apenas e só em greves perdidas por aqui e por acolá (à 6ª feira é claro para que o fim-de-semana seja prolongado).

Apesar de tudo há alguns que fazem, ou tentam fazer, mas para esses a “justiça” da crítica cai logo em cima. Sim, porque neste país quem trabalha sem receber dinheiro é “estúpido” ou quem tem iniciativas é considerado anormal e colocado imediatamente de parte do círculo da U.S.P.P. (União Social dos Passivos Portugueses). Esta “organização” que muitos pensam ser fictícia existe mesmo, bem no fundo das mentes desta população altamente qualificada para esvaziar as prateleiras das livrarias quando saem para a rua romances do José Rodrigues dos Santos ou para esgotar as bilheteiras do filme “Amália”. Há uma sem vontade absolutamente incompreensível que acaba por contaminar quem quer fazer algo por este pobre rectangulozinho. Muitos destes, que estão a ser contaminados pelo vírus da passividade (mandado disseminar pela USPP), fogem do país para não caírem na desgraça de uma caixa de supermercado qualquer ou então na desgraça de uma estúpida proliferação de sentimento antagónicos aos que lhes ensinaram nas ilhas que estão imunes deste tipo de vírus, (falamos evidentemente de algumas universidades).

Portugal é também um país de gente esperta, muito esperta por sinal, pena é que a sua esperteza seja conduzida para a injustiça que, em última análise, é também um factor determinante para fazer do nosso país um local com muito pouca justiça. Corrupção descaradamente apregoada por entre dentes corruptos de corpos corruptos. Uma elite política que procura encher a barriga em primeiro lugar, sugando este povo ignorante que se arrasta pelas calçadas, muitos deles sem dinheiro para calçado, e que são iludidos em falsos votos de esperança e numa grande falta concretização de promessas que ficam presas aos programas eleitorais que por aqui e por acolá são distribuídos. Temos uma população sem qualquer preparação, desprovida de quase tudo, não existe uma real evolução neste país que por vezes parece tropical visto que é definido inúmeras vezes como a República das Bananas. Justiça? Onde existe justiça neste cenário? Como salvar este “portugalinho” que em tempos disseram que estaria de tanga?

É triste meus amigos, muito triste falar-vos desta forma. Mas…as coisas não poderiam ser ditas de outra forma. Tenho muita pena mas esta é a minha visão, se não concordarem com a mesma estão à vontade para enviar uma resposta na qual usem da vossa oratória de demagogia para apresentar um ponto de vista talvez mais positivo.

Já ouviram falar em Educação? Certamente que todos vós já ouviram os sucessivos governos que por aqui passam dizer que “os problemas do país podem ser resolvidos com uma boa aposta na educação”. Onde está essa aposta? Sinceramente ainda não vi nada. Estranho não? Temos um sistema educativo caduco e pelas ruas da amargura, um ensino sem qualquer orientação no campo da formação pessoal dos cidadãos, preocupado apenas em injectar conhecimentos na cabeça dos estudantes, conhecimentos esses que, regra geral, não terão qualquer tipo de funcionalidade nos discentes. Por outro lado, a pedagogia de ensino orientada para a formação pessoal fica colocada de parte. Qual a razão? Será que vivemos num tempo em que temos que ser mais máquinas que Homens? Será exactamente por essa razão que as ciências sociais e humanas têm sido colocadas de parte para que as ciências exactas tenham, no nosso tempo, o primeiro lugar no que toca à importância do saber? Não seremos nós (Homens das ciências sociais e humanas) tão importantes quanto os outros? Se realmente somos qual será então o motivo para a sociedade nos colocar de lado. Injustiça? E a salvação onde cabe aqui? Na realidade, os Homens das ciências sociais são muito perigosos para os governos da nossa era por uma simples razão: Quem está ligado às ciências sociais e humanas executa, mas antes pensa. Nas ciências sociais não existem máquinas, existe antes um questionamento permanente de tudo. Homens desse tipo não interessam aos senhores de poder a nível nacional e mundial, o que realmente lhes interessa o tipo Homem-máquina, aquele que faz sem questionar.

Talvez sejamos assim, tão passivos, porque ao longo da história sempre tivemos tudo de mão beijada, não precisamos de mexer um dedo que fosse para que tudo nos caísse no colo sem qualquer necessidade de trabalho. No século XV foi o início de um período em que a riqueza abundava, o comércio com a África e com a Índia (mais tarde no século XVI) era uma realidade, o trabalho foi colocado de lado já que tudo nos vinha parar ao colo sem o mínimo esforço. Assim foi também mais tarde com a vinda das remessas de ouro do Brasil que nos permitiu construir monumentos gigantescos em território nacional. Até bem pouco tempo vivemos dos fundos da UE, muitos daqueles que beneficiaram desses mesmos fundos não os investiram nas suas actividades, optaram sim por gastar o dinheiro em bens pessoais. Tudo de mão beijada. Milhares e milhares de riquezas deitadas pela janela fora. Nós, portugueses somos mesmo assim. Temos as condições para evoluirmos: os meios, as pessoas, o capital só não temos…é a vontade. Como irá este povo ter salvação desta forma? A estranheza deste povo é digna de estudo realmente, muito sinceramente não quero é conhecer os resultados desse mesmo estudo. Tenho medo de me assustar.

Chegado a este ponto, meus caros amigos portugueses: qual a solução para o nosso Portugal? A resposta é simples, mudança de mentalidade. Só com uma mudança profunda nas mentalidades é que atingimos algo. Os tempos e a falta de desenvolvimento comprovam que não evoluímos assim tanto quanto pretendíamos, talvez porque o processo de alteração de mentalidades é longo, podendo o mesmo demorar séculos, quem sabe milénios. Enquanto as mentalidades não mudam, continuamos por cá a penar e a queixarmo-nos de tudo (português que é português tem que publicitar bem a sua vitimização) e esperamos que, à semelhança do que outrora aconteceu, tudo nos caia do céu. Talvez muitos esperem ainda o regresso do D. Sebastião. Hoje esteve nevoeiro, quando tal chegou hoje e nem dei conta.

Acordem por favor, é o que vos peço…nada mais!


Janeiro de 2009

3 comentários:

apcastro disse...

O que posso dizer caro amigo é que de facto o que revindicaste e com muito justiça dou-te total razão e apoio.

Português que é português é escravo lá fora mas não se importa, talvez porque o vizinho não o reconheça e talvez por ser mediocre.

Há muito tempo que tanto aqui, como no meu antigo blog, como em conversas tenho dito que só com uma alta alteração das nossas mentalidades, da fragilidade do povo se pode evoluir. Facto é que não interessa a ninguem mudar. A mudança é algo estranho para uns, para outros é uma ameaça. Bom o facto é que senão mudamos não vejo futuro para este país pois o futuro é hoje e a actuação tem de ser feita já porque o até já se tornou tarde demais.

Anónimo disse...

Concordo com tudo o que foi aqui escrito. Nós gostamos de ser vitimas, coitadinhos, e de dizer que eles (os politicos.. ou os homens de negro...) "só pensam neles, e nós o povinho é que sofre sempre...".

O problema de Portugal está na mentalidade. A crise anda ai... mas nós gostamos de a potenciar ainda mais.

Gostei especialmente da parte em que dizes que sempre ouviste falar da crise... LOL. Eu não me lembro de alguem dizer que estava tudo bem...

Rocha, André disse...

Desculpem a demora mas finalmente vou responder aos vossos comentários.

apcastro:

É certo que a mentalidade é a chave para atingir a evolução e sair de uma "crise imaginária" em que muitos se encontram. Não obstante há uma questão que extravasa já o campo da política social e que vai para o campo filosófico que é...o que é a mentalidade? Que entendemos? Será que somos um povo para juntos conseguirmos alterar a mentalidade?

Casualimagens:

O ser humano é naturalmente inconformado. Nunca está bem. Eu não condeno os portugueses por serem inconformados, condeno sim por serem inconformados comodistas. "Ai estamos tão mal"...o que fazemos para mudar? NADA!!!