segunda-feira, 20 de abril de 2009

Artigo sob as asas de um tempo sem asas

O nosso tempo é vivido a uma velocidade incontrolável e maníaca. Até quando conseguiremos aguentar este ritmo que a sociedade nos impõe de forma feroz? Poucos são os momentos em que podemos ficar descansados a pensar nas coisas do mundo, existe uma vontade inerte de mecanização de tudo. A chamada “máquina mundo” está a exigir do Homem mais do que aquilo que ele pode dar, o que em última análise poderá conduzir a uma mutação drástica do ser humano.

Tendemos, pouco a pouco, a desagregarmo-nos naquilo que nos une. O que realmente une o ser humano é a vontade de criar, a vontade de fruir, aquilo a que vulgarmente chamamos “vida” e, é essa vida, que a cada dia que passa está-nos a ser retirada das mais diversas formas: palavras tão simples como rir, brincar, fruir estºao progressivamente a desaparecer do nosso quotidiano. Assim sendo o Homem tem a obrigação de tentar a salvação deste modelo para que caminhamos, é importante que se apontem novos caminhos, que a palavras de ordem não sejam mais “produzir” e “ganhar dinheiro” mas sim “pensar” e “cumprir-se”. O Homem, hoje mais que nunca, tem necessidade de se mobilizar e confrontar a “máquina mundo” de uma forma verdadeiramente aguerrida, uma guerra com as armas vontade e união. Vivemos num tempo decadente, as vidas arrastam-se quase à espera do dia do último suspiro perdido num tempo indeterminado (para muitos o começo da salvação). Mas será justo que o ser humano viva condicionado para atingir uma salvação que nem sabemos muito bem se existe? Ao invés será também justo que vivamos num mundo constante perda do sentido da palavra humanidade? Que somos afinal? São certamente questões de complexa resposta, no entanto é chegada a hora de encontrar a réplica que poderá ser dolorosa mas que terá de ser equacionada e colocada sob a mesa.

Incutiram-nos a ideia que para sermos alguém na vida tínhamos que ter um trabalho no qual o salário fosse o mais chorudo possível. Pouco interessa se fazemos aquilo que não gostamos, pouco interessa se passamos por cima de pessoas para atingir as nossas pretensões. No fundo o que realmente é importante é o prestígio que teremos sobre a sociedade e o que podemos ter com o dinheiro que ganhamos. Na sociedade contemporânea um bom emprego não é aquele onde nos sintamos realizados mas sim aquele em que ganhemos uns bons milhares de euros. Da mesma forma um Homem de sucesso não é aquele que procura a realização pessoal, procurando por todo o lado meios para realizar os seus sonhos mas sim aquele que chegou a director da multinacional “A” sem nunca se sentir vocacionado para tal tarefa, ou então aquele que recebeu uma herança milionária e a gastou em futilidades. Estamos perante valores sociais exclusivamente materiais e absolutamente caducos e moribundos. Perante isto a salvação está comprometida por uma falta de justiça no que toca essencialmente aos valores de cada um.

Tentamos com isto transmitir que a sociedade de hoje vive em prol do capital. Quem tem muito capital é bem visto, quem não tem capital é colocado de parte. Poucas coisas hoje em dia não se compram, essa é a realidade. Esta é definitivamente a era do auge do poder económico, poder esse que ao longo da história sempre existiu mas equilibrado com ideias como a honra, a coragem e a força. Verificamos que a honra dos Homens de hoje desapareceu, assim como a coragem (poucos são os que largam tudo para trás em nome de um sonho) assim como a força (não física mas sim de espírito e personalidade). Tudo isto chegou a um estremo tal que, se Maquiavel fosse nosso contemporâneo certamente seria economista e faria um manual de “guerras económicas” porque, na realidade, são as únicas que existem na actualidade.

Há um tremendo abuso de um poder sem rosto, um poder que nos oprime de uma forma invisível, estamos a referirmo-nos ao poder económico. São tremendos os abusos que são feitos em todo o mudo. Julgamos que estamos mal? Certamente que muitos povos do hemisfério sul gostariam de viver “o nosso mal”. As injustiças são incomportáveis, chegamos a um momento de desumanidade brutal. Que justiça é esta? Que salvação para o mundo? Vivemos descansados, sem mover um dedo para, pelo menos, tentar remediar a situação, de uma forma cobarde delegamos a nossa irresponsabilidade nas Organizações Não Governamentais.

É necessária uma efectiva mobilização, o Homem tem que reclamar a sua essência, que aos poucos se perde numa globalização estranha que invade povos e impõe uma ditadura não só cultural mas também política e económica. A cultura ocidental, o capitalismo e a democracia são as ditaduras de hoje, quem não a segue é reprimido.

A passividade do ser humano a que hoje assistimos poderá, numa visão mais radical, conduzir a um 1984 à maneira de George Orwell.

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