quinta-feira, 19 de março de 2009

Complexus

Dispersos na linha marginal da vida. Carregados, ansiosos, o mundo aos saltos, no trampolim cosmopolita. Tensões. Os desejos do consumo coroam os sentidos. O complexo da existência. O complexo multidireccional. A Pandeia televisiva. Os jornais encharcados de chuva. Pânico nas bolsas, mercados financeiros aos tombos pela colina. Lápis sem tinta. Tinta das nossas omissões, pânico das nossas tristezas, desassossego nas nossas condutas. Explodem bombas. Explodem as emoções, a alma, os cruzeiros. Luxos encobertos, à vista de qualquer pessoa. Exploração africana, século XIX na China. Ilusão do unilateralismo. Polilateralismo. Preservativos enclavinham a bula papal. Eutanásia. Eutanásia ecológica. Descalcificação moral. Opiofagia em festins ocos. Alucinações bailantes, crianças amachocadas por hedonísticas feras. Loucura coberta de razão. Vestidos de casamento, códigos diversos. Arcas vazias, cobertas de soalho. Pão lacrimejante, cidades adormecidas, neblinas que entontecem a fagia de existir: Assim é o nosso tempo, multissentido. E o nosso espaço só aspira a uma lacuna na nossa vontade, da nossa ganância de ridicularizar o ridículo, de expor o inaudito, o destino dessinalizado, o sufoco da rotina. Concretizemos a nulidade da esperança. Bem-vindos ao civismo pós-moderno.

2 comentários:

David Rola disse...

Está descrito aqui um cenário decadente e catastrófico que eu o meu caro amigo Carlos tanto temos criticado acerca "desta" sociedade nas nossas tertúlias...

Carlos Vinagre disse...

É uma suma do espírito da sociedade global, apreendido na localidade que é Portugal, pelo meu temperamento. A crise dos tempos modernos. A crise que não existe já. A crise tão propagandeada, que é quase imperceptível saber se vivemos tempo de crise ou não. Contudo, esta constatação é sintomático de que vivemos uma crise global, mais a fila de desempregados...